quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Kamikaze 神風特攻隊

Incível a capacidade que ela tinha de errar.

Nas tentativas loucas, atirava-se sem pensar no que os pés iriam encontrar, e sempre encontravam o vazio, depois, a queda. Mesmo depois de tantas quedas, os arranhões não lhe ensinavam muita coisa. Ela sempre sabia o que deveria fazer, nunca enganou a si mesma, mas quando a razão lhe falava, ela dava de ombros e trancava aquela sábia rabugenta no quarto mais escuro e distante da mente, de onde saíam ecos fracos, inaudíveis. E, como todas as vezes, ela ignorava tudo o que sabia e saltava. Sentia-se feliz e orgulhosa pela própria coragem, pois achava o máximo poder dizer pra si mesma que arriscava tudo, e seguia sempre o coração. Sim, ela era uma tola, e no fundo o sabia. Porque ela escolhia ser boba, escolhia ignorar tudo o que sabia que era certo, e ela sempre sabia. Ainda assim continuava se atirando, saltava mais e mais alto, mesmo prevendo a queda em vez do vôo. Fingia não saber que não haveria ninguém lá para ampar sua queda e nunca dava ouvidos aos inúmeros avisos que recebia dos amigos, muito menos aos que recebia de si mesma. E errava mais uma vez. E outra. Mais uma vez. Caía mais uma vez. Enquanto sentia dor, mantinha um pouco de sanidade, então vinha o doentio arrependimento. Ela se prometia não mais pular. Fazia promessas que sabia que não iria cumprir. Pois bastava um lampejo, um som, uma cor, e mais uma vez ela se hipnotizava, jogava tudo pro alto, e se preparava para saltar só mais essa vez, uma última vez.