quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Penseira

[Acabo de pensar sobre minha vida entre os escombros.
O que eu me tornei?
Trêmulas momentos de razão são vistos aqui e ali, onde a luz consegue atravessar .
Daqui, perto do chão, eu lembro...
A antiga glória dos sonhos, as fantasias de uma criança, a altivez de uma majestade esquecida, onde estão?]

Antes de desabrochar, eu me guardava entre os espinhos.
Antes de o sol vir me maravilhar com a sensação do calor, eu era inteira em minha fortaleza.
O não-saber era leve e indolor, e ao mesmo tempo tanto eu sabia!
A flor do sonho esperava pacientemente para desabrochar, e ao se abrir para o mundo, recebeu com um choque a luz e o calor, para logo depois conhecer a noite e o frio.

Quando era um tímido botão e não atraía os olhos do mundo, não havia perigo em ser colhida.
Mas com o desabrochar das cores do sonho, vieram os animais da terra e do ar...
Lá, com as pétalas abertas, a frágil beleza florida.
Eu era uma flor bem comum, poder-se-ia dizer, exceto pela cor, que mudava constantemente.
E enfim os os homens viram as cores, e desejaram meu sonho.

Eu, frágil flor de beleza efêmera, como todas as outras, fiquei maravilhada com minhas próprias cores, com os olhares que atraía, com a adoração ruidosa.
Pobre flor, jovem e tola, ainda assim sabia que perfume e beleza não eram eternos.
O néctar então foi sugado, alimentou e percorreu os campos
E a cada inseto, a cada pássaro, a flor mais e mais se abria.

Até eu esquecer do tempo em que era minha própria proteção.
Até desaprender a empunhar meus espinhos, minhas frágeis espadas.
Nesse tempo o sonho nunca esteve tão bonito, no auge das cores e do perfume
Então eu, flor do sonho louca, desvairada, fechei os olhos e entrei no turbilhão
E assim fui levada pelo vento, e acordei no chão frio, entre vermes e poeira.

Jovem flor, bela flor, agora aqui, aberta e colorida entre os escombros.
Captando a pouca luz, espero uma rajada de vento para alçar novo vôo
Ou talvez ser vista e acolhida por mãos gentis
Antes que o perfume de todo passe e as cores sejam apagadas
Eu, sonho desabrochado esperando o amanhecer.